terça-feira, 1 de junho de 2010

O Mocinho ou o Vilão.





Detesto parecer quem não sou. Detesto com a mesma palpitação parecer comigo mesmo nos momentos em que fujo da minha natureza humana pecadora.
Eis aqui o futuro repetindo o passado. Sheikspeare, em Hamlet, sugere a difícil e cruel decisão sobre ser ou não ser, em uma máxima que se tornou mundialmente conhecida e lembrada até hoje. Eu me deparo com ela sempre em que meus instintos humanos são postos em confronto com os parâmetros éticos que “mamãe” me ensinou e que eu, tremulamente, fui erguendo ao longo da vida.
Odeio ser o mesmo sempre, assim como odeio me afastar da identidade que construí ao longo de anos tão controvertidos. Quem foi que inventou o tal do padrão? Padrão de ética, de bondade, de correção, de perfeição. Coitado do funcionário-padrão que está fadado a ser o mesmo sempre. Se rebelar às vezes é libertador. Não sei por que os sentimentos negativos, na maioria das vezes, usam vestes tão charmosas, a depender do mal que os outros nos causam.
Sim, toda vilania tem um poderoso charme. A vingança, quase sempre remetida à frieza, ganha ares perfumados na arte e na ficção, a exemplo da exuberante Catherine Tramell, de Sharon Stone em Instinto Selvagem e da linda e ambiciosa Laura Prudente da Costa, de Cláudia Abreu, em Celebridade, recortes de uma era e que a maldade constitui luxo e glamour.
Calma! Não há aqui nenhuma apologia a crueldades e falcatruas, rsrs. Mas uma dúvida, no mínimo, inquietante. Por que temos que optar por um lado? Por que temos que nos posicionar num extremo ou em outro? É tão difícil ser impecavelmente bom e justo o tempo todo (nem o Direito consegue isso, rs). Mas também é ridículo ser taxado como cria da Odete Roitmman sempre que houver algum tipo de fissura nos padrões de santidade que incluem honestidade, honradez, paciência, perdão, conformação, lealdade, esperança e uma penca de outros vocábulos sonoros.
Procuro não nutrir meus sentimentos egoístas, vingativos ou mesquinhos. Mas preciso aprender a não me punir por possuí-los. A maturidade traz ponderação. A gente aprende a falar menos e a ouvir mais. Calar na hora certa e gritar quando é preciso. A vida me convenceu a ser bom e isso não mudará jamais, nem que um batalhão de “Nazarés” Tedesco tente usurpar minha paz. Mas que fiquem avisadas que irão levar bofetadas em múltiplas direções, sem pena nem dó.
Na dúvida entre ser vilão ou mocinho, opto por ser humano. Opto por reconhecer meus valores mais gentis e solidários, assim como aqueles mais nojentos escondidos no recôndito de minhas angústias, frustrações e sofrimentos. Sendo humano, posso passear livremente entre uma e outra persona, sem precisar me filiar a nenhum partido. Cultivo o mocinho, ele é mais legal, mais amigo e mais careta. Ser careta também é normal. Não me mutilo pelas vezes quem sou egoísta, vingativo ou rancoroso, afinal isso também próprio da nossa natureza, pois não é todo dia que a gente acorda com humor para dar a outra face pra bater.
Ai, Jesus, pequei de novo!

Luz para todos!

Um comentário:

  1. Ah! Mocinho ou vilão? Confesso que tem dias que vou de um ao outro sem perceber...Na verdade, a ocasião ajuda bastante, e logicamente, meu último sono também.
    Acho que com o tempo amadurecemos muitos sentimentos. E acho que você disse a palavra certa: aprendemos a ponderar, seja para se preservar; seja para preservar os outros; ou simplesmente porque "nossos valores" nos pedem!
    Mas quanto a você Júnior, prefiro sua versão "mocinho", deixo o "vilão" para os outros...rss

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